O companheiro cósmico Pedro Águas continua ligado ao comércio à queima-roupa espanejando o spleen alentejano com a sua dentadura postiça made in Aldebaran. Se por instantes adormeceres, companheiro, entre gordura pós-moderna e modorra ancestral, não te esqueças jamais de reafirmares a nossa lealdade ao cogumelo mágico, com impropérios de bêbado nocturno ou com manha de colector matinal de leite e sonhos.
Tratado do Poema
O poema não é infinito. O poema é indefinido porque cresce para dentro. As mãos são como os poemas ao longo das carícias e dos anos. Os anos são como as carícias: ambos respiram. É sempre como comparar a eternidade e a roda, ambas foram inventadas há muito tempo, ambas fogem, ambas permanecem, ambas estão na poesia, ambas bebem pelo raio. A pena, a pena ardente, a pena sôfrega traça o limite do poema. Claro que lá dentro é tudo diferente... mas o dentro todo, pode dizer-se, está contido. Como, aliás, as aves todas. Como, aliás, os ventos todos. Como, aliás, as mãos. As mãos estão contidas. Contidas na sombra, contidas no sangue, contidas na areia que seguram, contidas no poema que lhes está dentro. Um poema é pequeno. O poema é pó. O poema chora, igualzinho ao próprio Universo. A Terra foi a lágrima da qual brotou a ave. Da ave brotou o vento. Do vento brotou a areia. Da areia brotou o sangue. Do sangue brotou a pena. Da pena brotou a mão. Da mão brotou a carícia. Da carícia brotou a roda. O poema é a roda por dentro.
Pedro Águas
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