(ou A inversão descarada da realidade)

Queria aqui divulgar um texto que demonstra o papel anti-comunista dos sindicatos e partidos de esquerda, nomeadamente o PC, durante a época da Frente Popular em França:

B. Schwartz Juin 36: l’envers du décors (5 páginas, 124 Ko)

É que é à custa de certos esquecimentos que as velhas mentiras podem constantemente apresentar-se em público com a cara lavada. E por falar em amnésia organizada e mentira pura aproveito para escarrar de passagem no Manuel Loff e no colega espanhol que esteve com ele no Câmara Clara[1], esse antro de cultura burguesa, onde ambos assimilaram a revolução espanhola ao totalitarismo, e elogiaram os republicanos não-revolucionários. Que o Loff tenha sublinhado o contributo antifascista do estalinismo, isso não melhora as coisas para o seu lado. Soma a uma mentira outra, que apenas aparenta ser de sinal contrário.

Foi curioso ver o espanhol gaguejar ao referir-se aos anarquistas em plena acusação de totalitarismo aos revolucionários. Que os estalinistas esmagaram a revolução é sabido por todos menos por historiadores democráticos encartados. Nunca a mistificação burguesa atingiu um ponto tão baixo.

Pesquisando no Google sobre o assunto, verifiquei que um tal Natureza do Mal, blogue cujo nome não me é estranho, dá nota positiva a um tal revisionismo histórico, que sendo tão grosseiro, o salientar-se as qualificações académicas dos seus autores torna-o ainda mais vergonhoso.

E depois esta gente espanta-se que haja quem use termos tão “antiquados” como burguesia, cultura burguesa, etc. Se não é de espantar que em tempos de consenso social esse seja o da ideologia democrática, só numa situação de profundo totalitarismo a escumalha se junta na TV a proferir mentiras sem esperar réplica. A essa gente não só lhe escapa a natureza de classe dessa cultura sempre apresentada como neutra mas revela-se tão presa da dicotomia simplória totalitarismo-ordem existente que mesmo quando ela é flagrantemente falsa, o maquinismo automático de produção apologética, a famosa cassete que eles só vêem nos adversários, continua a funcionar sem nenhum solavanco. Sendo assim, a quem importa a linguagem sumamente nova dessa bicharada? A novilíngua é parceira da amnésia organizada. Mas essa gente tem o seu próprio Orwell. Além de classificarem erradamente o POUM como troskista (deve ser do rigor historiográfico, rigor mortis quando se trata de abordar os rojos), desencantam um Orwell democrático e antagonista da revolução, porque insistem em identificar a revolução aos estalinistas (que leiam melhor a Homenagem à Catalunha).

Como disse acima, quando o discurso desce ao nível da mentira e se coloca portanto abaixo de qualquer crítica, a única réplica que nos resta é o escarro.

[1] Oh Pimenta, se o Péret dizia que não comia desse pão, tu devias ter-te negado a comer dessa sopa (http://www.youtube.com/watch?v=HePG8fVb8iQ).



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