O que é uma bandeira.
Uma tentativa de apresentar uma perspectiva internacionalista sobre a actual situação na Cisjordânia depois do ataque israelita à faixa de Gaza.
Muita gente em Israel recordará uma coisa dos protestos do sábado, 03/01/2009: que os organizadores foram à Corte Suprema para ter garantias de que lhes seria permitido utilizar uma bandeira palestiniana.
Agora, eu sou a favor de que qualquer um possa ir a toda parte com a bandeira que quiser ou sem bandeira. Mas cabe perguntar-se: Por que levar a bandeira da Palestina que é a mesma que anteriormente a OLP utilizava?
O objectivo destes protestos é, supostamente, o de deter o ataque a Gaza. O que tem a ver a bandeira palestiniana com isso? Podem nos dizer que: "Bom, é um apoio à Resistência palestiniana" A essa resposta eu replicaria: "De que resistência palestiniana estamos falando?". Na faixa de Gaza os palestinianos mais sensatos desejariam era pôr-se a milhas da área atacada, e não resistirem sendo bombardeados. E o que significa resistir sendo bombardeado? Acenar aos combatentes que chegam?
Esta bandeira representa o nacionalismo palestiniano, da mesma forma que a bandeira israelita representa o nacionalismo israelita. Agora, muitos dos leitores deste site [Israel indymedia] provavelmente poderão associar o nacionalismo israelita com a violência, a opressão, e com o delgado véu que utilizam os capitalistas para ocultar a sua dominação no nosso país. Mas por que não aplicamos a mesma análise ao nacionalismo palestiniano?
Como dissemos, os palestinianos na Cisjordânia estão sendo brutalmente oprimidos e reprimidos quando tentam protestar contra essa mesma guerra. Por quê? Porque a Autoridade Palestina não quer nem ouvir crítica alguma nem mover-se o mínimo da sua autêntica razão de ser, subcontratada que foi por Israel para o controle dos Territórios Ocupados .
Há exactamente alguns meses, esses mesmos líderes do Hamas, agora escondidos em seus bunkers e complexos de segurança, gravando suas mensagens de resistência ao "seu" povo, recusaram pagar aos professores, destruíram os sindicatos palestinianos, mataram palestinianos inocentes nas ruas quando se enfrentaram com os seus concorrentes da Fatah. Além disso atiram rockets ao acaso contra alvos civis em vez de destinar recursos para melhorar verdadeiramente a situação dos palestinianos superexplorados e desempregados.
Enquanto protestamos contra o brutal bombardeamento de Gaza por parte do nacionalismo israelita, devemos também recordar que o nacionalismo palestiniano é simplesmente menos poderoso, porém não menos brutal. Infelizmente a polémica sobre a bandeira contribui para fortalecer o nacionalismo como um ideal, tornando mais fácil desqualificar quem se oponha ao governo, pois o converteria automaticamente num apoiante do "inimigo".
Claro que, sendo cínico, há um bom motivo para o fiasco destes protestos. Este protesto tinha sido convocado pela frente Hadash do Partido Comunista Israelita, um dia antes do início oficial da campanha eleitoral deste partido. E a Hadash precisa estender a sua base eleitoral entre os eleitores nacionalistas palestinianos do interior da Linha Verde[1] para manter a sua presença eleitoral nas próximas eleições face às ameaças que representam partidos como os Nacionalistas Seculares (Al-Tajmua) e o Movimento Muçulmano. E isto, uma vez mais, é jogar o jogo do nacionalismo, e em última análise dos capitalistas.
E isso só conduzirá a uma repetição de ciclos de violência que não poderão desaparecer até que compreendamos que esses nacionalismos não fazem mais do que turvar-nos a consciência e impedir que nos fixemos na questão essencial: que estamos sendo enviados para matar e morrer, e competir, ao serviço de pessoas que não servem os nossos interesses mas sim os seus próprios. E isto vale tanto para Israelitas como para Palestinianos. Desatemos o nó górdio do nacionalismo de modo a seguirmos o nosso caminho de uma melhor vida para todos.
[1] A Linha Verde separa Israel da Cisjordânia.
Artigo escrito em Israel, publicado no Indymedia Israel, em libcom.org e em português na página web da CCI. Alterei a tradução desta última.
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vvv disse...
https://publish.indymedia.org.uk/en/2009/01/418996.html?c=on#c213201
Imagens de um chefezeco duma organização de solidariedade com a Palestina a agir ditatorialmente contra internacionalistas. Para esta gente ser contra a guerra é apoiar a facção anti-comunista e reaccionária do Hamas, que tem vindo a reprimir lutas de trabalhadores em Gaza ( http://libcom.org/news/palestinian-union-hit-all-sides-25072007 )e tem mesmo impedido os palestinianos de receberem ajuda médica no Egipto ( http://news.yahoo.com/s/afp/20081228/wl_afp/mideastconflictgazaegyptaid_081228101521 ).
São recomedáveis estes artigos do pessoal da libcom.org:
“Sometimes we shoot the same way” – the attack on Gaza, internationalism and the Left ( http://libcom.org/library/%E2%80%9Csometimes-we-shoot-same-way%E2%80%9D-%E2%80%93-attack-gaza-internationalism-left ) e
Anti-semitism and the left - redux ( http://www.libcom.org/blog/anti-semitism-left-05012009 )
14 de fevereiro de 2009 às 11:28